terça-feira, 27 de junho de 2017

O Tigre

(“The Tyger”, de William Blake. 1794.)
Tigre tigre, que arde e brilha

Em noite funda, negra trilha

Que olho, eterna maestria

Fez tal terrível simetria?



Que fosso ou limbo estelar

Fundiu em chamas teu olhar?

E com que asas se lançava

O que audaz fogo tomava?


Quem com traço tão perfeito

Fez as fibras do teu peito?

E quando o sangue então correu

Que feros pés e mãos ferveu?


E que martelo, que correia,

Que forno a mente incendeia?

Em que bigorna tanto horror

Bate as medidas do terror?


Quando o cosmo todo espanto

O céu cobriu de lança e pranto

Sorriu ele, ao ver-te inteiro?

Fez-te o mesmo do cordeiro?


Tigre tigre, que arde e brilha

Em noite funda, negra trilha

Que olho ou eterna maestria

Ousou terrível simetria?



segunda-feira, 26 de junho de 2017

Todo animal é um esteta

Um leitor desavisado vai se decepcionar com At the Mountains of Madness. O transtorno não vem do que se encontra, mas das faltas. O leitor regular vai ficar o tempo todo se perguntando "O que ele viu? O que aconteceu? Quem são esses bichão?". Algo está sempre para acontecer. O horror deve vir da percepção crescente de que a Terra talvez seja mais velha, fria, feia e perversa do que as paisagens conhecidas. A Terra tem recantos obscuros que assim permaneceram por milênios simplesmente porque ninguém estava olhando: basta prestar atenção a um objeto para que ele comece a se transformar. O mais grosseiro dos seres humanos ainda é, enquanto baba, peida e arrota, um delicado jardineiro. Todo animal é um esteta.

O mar

Tive o sonho mais estranho essa noite. Nele eu estava à beira-mar numa cidade que não é a minha cidade atual. Estava no calçadão ao lado de ...